quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Cultivando a quietude


Traduzido e adaptado do texto de Carrie Dentley: http://theparentingpassageway.com/2009/12/1v5/cultivating-the-quiet-the-inner-work-of-advent/


A escritora Donna Simmons se hospedou conosco um tempo atrás e comentou sobre como nossa casa fica silenciosa depois das sete da noite. A casa fica a meia luz, dá para ouvir o vento ou a chuva lá fora e ouve-se apenas o ressonar do cachorro :) e/ou das crianças.


Esse comentário me fez refletir sobre o tom e energia da nossa casa. Como é a energia da sua casa? Essa energia muda ao longo do dia? O que muda essa energia? Sua casa fica em silêncio em algum momento do dia? Seus filhos ficam quietos alguma hora ou estão sempre “elétricos”, numa atividade sem fim?


Acredito que existem três impedimentos para conseguir quietude no lar. O primeiro é o acúmulo e desordem visual (um fato relevante neste momento de festas).


Ano passado, nesta mesma época, escrevi o seguinte em outro texto (ver o texto completo em: http://theparentingpassageway.com/2008/11/23/holiday-gifts-for-children-how-much-is-too-much/ ):


Infelizmente, na nossa sociedade, a(s) pessoa(s) com as quais a maioria das famílias gastam mais dinheiro são as crianças. Ufa! Convido-lhe a tomar um copo de chá relaxante e pedir ao seu cônjuge para levar as crianças para o parque por algumas horas. Agora vá ao quarto delas e observe a quantidade de coisas que tem lá. É sério. Conte o número de quebra-cabeças, pares de sapatos e caixas de brinquedos. Quantos jogos tem lá? Quantas roupas?


O primeiro passo é sempre o mais difícil. Convido-lhe a livrar-se de pelo menos um terço dos brinquedos nesta época de festas. Se não conseguir se livrar de tudo, livre-se pelo menos dos brinquedos de plástico vindos da China e guarde apenas os que valham a pena. Uma dica: algumas famílias guardam uma parte dos brinquedos em outro lugar e fazem uma espécie de rodízio, trocando-os mensalmente ou sazonalmente.”


Onde você vai guardar todas os presentes novos do Natal? Pense um pouco sobre isso esta semana. Gostaria de lançar o desafio de usar esse momento para organizar a bagunça do seu espaço físico. Apenas fazer isso já ajuda a criança a se acalmar. Pense no quarto do seu filho(a) e como ele pode se tornar um espaço de relaxamento.


O segundo desafio para conseguir a quietude é o acúmulo e desordem VERBAL. Pare de confidenciar tantos detalhes da sua vida adulta com seus filhos! Mesmo uma criança de sete, oito ou nove anos não precisa saber de tanta coisa. Converse o que for de adulto com adulto e de criança com criança. Pergunte-se sempre: meu filho realmente precisa dos dez minutos de raciocínio adulto sobre quantas possibilidades de passeio pode-se fazer hoje e por que? Precisa ouvir comentários sobre o “filho do vizinho que faz isso mas nossa família não”, etc., etc. É mesmo necessário?


Pense sobre quanto de espaço e quietude você anda cultivando entre suas palavras. Seja um modelo para seu filho sobre como pensar em silêncio, sobre como tirar conclusões após um período de reflexão interior e só depois colocar em palavras faladas a sua conclusão (ao invés de falar todo seu raciocínio em voz alta). Essa é uma ótima habilidade para uma criança aprender!


A outra forma de reduzir a desordem verbal é parando de perguntar como eles se sentem. Crianças com menos de nove anos mudam seu estado emocional o tempo todo, e ficar fazendo esse tipo de perguntas é uma pressão enorme. No livro Simplicity Parenting, Kim John Payne fala exatamente sobre isso:


As crianças com menos de nove anos certamente têm sentimentos, mas na maior parte do tempo esses sentimentos são inconscientes e não são diferenciados. Em qualquer tipo de conflito ou chateação, se forem perguntados como se sentem, muito honestamente dirão 'Mal'. Eles realmente se sentem mal. Porém, dissecar e analisar isso, ficar remexendo essas emoções pra lá e pra cá imaginando que estão escondendo outros sentimentos mais sutis, é invasivo. É, também, geralmente improdutivo, e pode deixar a criança nervosa. Quando crianças pequenas têm emoções, elas levam tempo para tomar consciência das mesmas. Até os dez anos, mais ou menos, sua consciência e vocabulário emocional é prematuro demais para responder 'à altura' aos nossos monitoramentos.


A inteligência emocional não pode ser comprada ou apressada. Se desenvolve devagar com o surgimento da identidade e com o acúmulo gradual das experiências. Quando empurramos uma criança para uma consciência que ainda não possui, transpomos nossas próprias emoções e nossa própria voz para eles, sobrecarregando-os. Durante os primeiros nove ou dez anos as crianças aprendem principalmente pela imitação. Suas emoções e a forma com que você lida com elas é o modelo com o qual eles aprendem, muito mais do que quando você tenta os 'instruir' sobre isso”.


Quanto menos você disser, mais peso suas palavras terão. Sorria se seja carinhoso(a), abrace e beije, mas tente falar menos e ouvir mais!


O terceiro desafio para conseguir a quietude é muita ENERGIA FÍSICA! A maioria das crianças com menos de 9 anos precisam de muito tempo ao ar livre, brincando e correndo, para gastar suas energias. Sem conseguir usar sua energia física é provável que as crianças fiquem “atacadas” e não consigam se focar em nada, além de falar pelos cotovelos! Então leve sempre as crianças para brincarem lá fora!


Desejo a vocês momentos de quietude!

Carrie Dentley



Veja mais:

http://theparentingpassageway.com/2009/04/14/stop-talking/

http://theparentingpassageway.com/2009/08/19/using-our-words-like-pearls/

http://www.thechildtoday.com/files/SimplicityReviewForm