domingo, 13 de setembro de 2009

Dez boas ferramentas para uma disciplina infantil suave

Por Carrie Dentler*


Queremos educar bem e sem violência, mas tem horas que nos questionamos como fazer para substituir gritos, chantagens e castigos físicos na hora de disciplinar. Neste texto vou focar as crianças de até 7 anos, apesar das ferramentas que vou citar servirem para crianças mais velhas.

Barbara Patterson e Pamela Bradley, no seu livro “Beyond the Rainbow Bridge – Nurturing Our Children from Birth to Seven” [algo como “Além da Ponte do Arco-Íris: Cuidando de Nossas Crianças do Nascimento aos Sete Anos”, sem tradução em português] apontam que a criança pequena que vê adultos tendo acessos de raiva e descarregando essa raiva na criança ou na presença da criança, guardará essa imagem dentro de si por toda sua vida. Tudo que se faz na presença de uma criança a atinge profundamente: gritos, ameaças e chantagens não ajudam na disciplina das crianças pequenas. Pelo contrário, podem até enfraquecer sua habilidade de lidar com situações de crise quando forem adultas.

Então a regra número 1 seria: sempre guiar a criança de até 7 anos pelo princípio da imitação.

O que é imitação? De acordo com Rahima Baldwin Dancy, no seu livro “You Are Your Child’s First Teacher” (“Você é o primeiro professor do seu filho”, sem tradução em português), a melhor forma de ensinar um comportamento ao seu filho é fazer o mesmo na frente dele(a). Porém, isso demanda que nós adultos nos levantem e façamos alguma coisa ao invés de ficar o tempo todo dando ordens ou explicações.

Essa idéia da imitação é a base de muitas coisas na vida de uma criança pequena. Uma criança pequena imitará, durante suas brincadeiras, exatamente as coisas que você faz, desde jogar um pano sujo na pia até franzir a testa quando está preocupado. Então quando você ver algum mau comportamento no seu filho(a) olhe primeiro para si!

Abaixo, vamos ver algumas outras ferramentas que podem ser utilizadas no processo de disciplina:

1. Use o humor – Muitos pais levam a criação dos filhos muito a sério. Não leve cada palavra que sai da boca de sua criança tão a sério a ponto de ter que conversar longamente e dar mil explicações toda vez que ele disser algo “ruim”.

Vou dar um exemplo. Uma criança de 3 anos grita “Eu te odeio!” para você num momento de raiva. Isso não é nada divertido de se ouvir, mas eu não daria mais peso para isso do que se ela dissesse que anda com seu triciclo na Terra dos Gigantes. Uma criança pequena simplesmente não entende a profundidade desta frase e isso não implica que ela não seja madura para a sua idade. Ela está apenas com raiva! Não faça que isso lhe distraia da situação original (que provocou a raiva); ou seja, não deixe a frase transformar a situação em algo maior!

A melhor tática, neste caso, é o humor (pelo menos até os 12 anos). Tenho uma amiga que é ótima neste quesito e um dia observei uma cena interessante. Estávamos de carro e sua filha estava atrás na cadeirinha, brincando com as outras crianças. De repente ela perdeu o equilíbrio e bateu com o olho num livro. Ficou muito zangada, segurando o olho, chorando e reclamando. Não havia sido nada demais, o olho nem tinha ficado vermelho. Então o seguinte diálogo decorreu:

Filha: “Mãe, alguem meteu o pé no meu olho!”
Mãe: “Eu achei que você tinha caído naquele livro.”
Filha: “Não, não, foi um pé! Foi o pé de alguém” (gritando desesperada)
Mãe: “Bom, neste caso... foi um pé de chulé? Seu olho ficou fedido?” (O irmãozinho começa a rir; a filha ainda está chorosa).
Filha: “Eu não sei se tinha chulé. Não consegui sentir o cheiro.” (O irmãozinho e os adultos estão todos rindo).
A mãe pega a filha para abraçar: “Bom, um pé de chulé vai fazer seu olho ficar um olho de chulé, deixa eu ver... Hunfff!!!!”

Isso poderia ter ocorrido de outra forma, já que todos os adultos tinham certeza que tinha sido o livro, enquanto a filha estava certa do chute. No final das contas não fazia diferença, pois estava doendo, mas poderia ter escalado para uma grande conversa cheia de raciocínio desnecessário para a idade (“não poderia ter sido um pé por causa disso ou daquilo”), ou ter se tornado algo muito sério, com cubos de gelo que não eram necessários (lembrem-se de que não havia sangue ou vermelhidão), ou então ter virado um Tratado Sobre O Perigo De Brincar Perto Demais Com Os Outros.

As coisas podem ser levadas com humor e em muitas situações o humor pode salvar o dia. O humor impede que as coisas se transformem em algo grande ou sério demais e serve de modelo para que a criança aprenda a ver o lado bom das coisas em momentos de estresse ou frustração.

Muitos pais dizem que é melhor guardar suas grandes reações para as grandes coisas da vida. Concordo, mas para tanto é preciso saber o que é GRANDE para sua família e para você. Pense sobre o estágio no qual a criança se encontra e decida o que é grande e o que não é naquele momento, e aja de acordo.

2. Distraia – uma ferramenta viável para todas as crianças abaixo dos 7 (e até muitas de 7 e 8 anos). Porém, é preciso criatividade no calor do momento para pensar de uma distração apropriada. Distração não é suborno ou chantagem, mas sim uma forma de mudar a cena para melhor.

Um exemplo é a mudança de cenário. Algumas crianças precisam apenas sair um pouco (para o jardim, quintal, etc.) quando estão chateadas!

3. Abraços, beijos e carinhos – Resolve bastante coisa sem precisar de muitas palavras. As vezes não precisa dizer nada mesmo, só segurar seu filho(a) nos braços e mostrar que você está lá com e para ele(a).

4. Fale em imagens – Muito útil com crianças pequenas. Ao invés de fazer a criança partir para uma “resolução de raciocínio” que vem “da cabeça” (o que na perspectiva Waldorf não é bom nesta idade), tente usar frases que tragam uma imagem para a criança. Por exemplo, para uma criança barulhento pode-se dizer “Diminua a sirene” ou para outra que não quer vir comer “Venha pulando como um coelhinho para pegar sua comida”. Assim, você redireciona o comportamento para algo mais positivo (o trabalho de Donna Simmons é muito interessante para se ter idéias de como falar de forma pictorial: at www.christopherushomeschool.org).

5. Use a palavra “pode” - por exemplo, afirme “Filhinho, você pode trazer seu prato até a pia para mim. Obrigada!”. Uma forma positiva de falar, sem gritar ou mandar. Porém, é importante que você seja sincero(a) com ele(a) e use um tom de voz positivo.

6. Limite as escolhas e poucas ou nenhuma palavra – As vezes um olhar fala mais do que cem palavras. Tente ajudar seu filho(a) a colocar o casaco enquanto canta uma canção sobre passear. Outro exemplo é simplesmente entregar a escova de dentes para escovação depois do banho ao invés de listar todos os motivos pelos quais é importante a higiene bucal. E isso nos leva para...

7. Empregue o “descastigo” - Segundo Alfie Kohn, no seu livro “ Unconditional Parenting” (algo como “Pais incondicionais”, sem tradução em português), os pais tendem a preferir colocar a criança “de castigo” ao invés de bater, como se estas fosses as duas únicas opções possíveis. A verdade é que (como já vimos até agora) essas táticas são igualmente punitivas. A única diferença é se a criança vai sofrer por meio físico ou emocional. Colocar de castigo apenas atrasa o momento até que a criança receber algum tipo de reforço positivo. Quando você coloca uma criança de castigo afastando-a de você, na realidade o que você está tirando dela é sua presença, sua atenção e seu amor.

Assim sendo, considere usar o “descastigo”. Algumas famílias instituem um local especial onde adultos e crianças podem sentar juntos e quietinhos, até se acalmarem. Outras mães apenas pedem que as crianças sentem-se perto dela enquanto fazem algum serviço ou atividade rítmica.

8. Ignore – Sim, é isso mesmo! Se o comportamento não está machucando ninguém nem a própria criança, mas apenas lhe deixando irritado(a), vez ou outra faça de conta que não está vendo. É claro que as vezes é preciso fazer alguma coisa (como usar uma das outras ferramentas citadas acima), mas não faz bem dissecar todo e qualquer comportamento.

9. Dê continuidade física às suas palavras – Quando você diz algo para uma criança pequena é preciso dar algum tipo de continuidade física as palavras para ajudar. É bom segurar nos braços, por exemplo, uma criança que está chateada com alguma situação. A fisicalidade da vida é algo muito presente para as crianças pequenas – abraços, beijos, um colo para se sentar e ajuda no que for preciso. A dignidade da criança deve sempre ser respeitada, então fique calmo quando for dar continuidade física a alguma coisa, lembrando-se sempre que nesta faixa etária (até os 7 anos) as crianças não funcionam bem unicamente com diretrizes verbais.

De acordo com Rahima Baldwin Dancy no livro citado anteriormente, a criança só começa a responder à autoridade de forma consistente a partir do ensino fundamental; ou seja, responder apenas à palavra falada, sem um acompanhamento de ações físicas. Com a criança em idade pré-escolar é preciso corrigir e demonstrar repetidas vezes, e não pode se esperar que a criança lembre sempre, pois não há maturidade suficiente ainda.

10. CONGELE! Uma das melhores ferramentas para os pais é aprender a dar aquela pequena pausa mental e se perguntar se o que você pretende fazer vai realmente ajudar seu filho(a) a ser o adulto que ele(a) tem o potencial de ser. Ou vai apenas piorar a situação ou transformá-la em algo negativo ou desnecessário? É algo que vai ensinar alguma coisa positiva ou apenas um momento de raiva que vai passar?

Seja uma liderança verdadeira dentro da sua própria casa usando essas ferramentas positivas!


* Adaptado do site The Parenting Passageway

Sobre o blog

O propósito é reunir aqui traduções de textos e algumas reflexões minhas sobre o ensinar e o aprender sob a ótica da pedagogia Waldorf. Acredito que, apesar do crescente interesse neste tema no Brasil, a quantidade de informações acessíveis ainda é pequena em relação ao que existe, por exemplo, na língua inglesa.

Gostaria de ressaltar que não sou especialista em pedagogia Waldorf, antroposofia, etc. Sou apenas uma mãe aprendendo sobre o assunto para contribuir para a melhor educação do seu filho e tentar, neste caminho, ajudar outras mães que se interessam por este tema.