domingo, 3 de julho de 2011

Trazendo ritmo para a vida do bebê

Traduzido e adaptado livremente do texto de Kristen Burgess

(http://www.christopherushomeschool.org/early-years-nurturing-young-children-at-home/the-waldorf-baby/bringing-rhythm-to-your-baby.html)

Uma vida ritmada e organizada nutre a criança, inclusive o bebê. Trazer ritmo aos dias e à vida do bebê também trará benefícios para você e para toda a família.

Uma vida com ritmo e rotina não significa seguir horários rígidos. Ritmo é algo mais natural e orgânico, que flui. É algo que ajuda a família, não algo que prende.

Se você ainda está grávida e se preparando para o nascimento do seu filho, sugiro que você se liberte de quaisquer expectativas para as primeiras semanas de vida do bebê. Esse é um momento onde você estará conhecendo o bebê e ele ou ela estará se ajustando à vida fora do seu ventre. Passe bastante tempo conversando e conectando-se com o bebê e, sempre que der, descanse o máximo possível.

Quando seu bebê tiver com duas ou mais semanas você pode começar a criar um ritmo. Na verdade, você pode começar assim que sentir que é a hora. Apenas tente não se cobrar muito cedo após o parto.

Comece criando um ritmo para guiar seu dia. Se você tem filhos mais velhos isso pode ser mais fácil, pois você provavelmente já tem horas de acordar, comer e dormir (e se não tiver, isso pode ser uma boa hora para começar!). Se esse bebê é seu primeiro, você precisará de mais disciplina. Foi bem mais difícil para eu dar um ritmo à vida do meu segundo e terceiro bebê que do primeiro.

Comece escolhendo uma hora para acordar (ou para acordar o bebê, se você quiser acordar antes), uma hora para comer (e lanchar também!) e uma hora para colocar o bebê para dormir. Esses horários não precisam ser rígidos: algo como “em torno das 8 horas” já está bom. Recomendo que você leia sobre os benefícios que dormir cedo trazem para as crianças e escolha um horário de acordo para o bebê. Para se ter uma idéia, meus filhos dormem às 7 horas!

Agora você tem um “roteiro” para começar a conviver com seu novo bebê (ou bebê mais velho!). Acorde pela manhã e se prepare para o dia. Prepare o bebê para o dia. Coma seu café da manhã enquanto amamenta. Depois você pode fazer algum serviço pela casa com o bebê num sling, dar um passeio perto de casa e então amamentar mais um pouco!

Quando você for lanchar, amamente o bebê. Seu bebê começará a associar a hora do lanche com a amamentação. Aos poucos você pode começar a acostumar o bebê a tirar um cochilo matinal logo após essa hora do lanche. Aos poucos seu bebê irá se ajustar a esse ritmo e rotina.

O mesmo acontece com o almoço. Amamente logo após o almoço ou durante o almoço. Quando tive meu segundo filho, eu colocava o almoço do primeiro e então amamentava o bebê enquanto eu almoçava. Depois eu colocava o bebê na cadeirinha para dormir enquanto ninava o mais velho no colo. Fiz o mesmo quando tive o terceiro filho.

Quando meu segundo filho era bebê ele dormia mais ou menos uma hora na cadeirinha enquanto eu e o mais velho também cochilávamos. Depois ele acordava para amamentar e dormia por mais duas horas. Sim, um cochilo de três horas! Enquanto isso, eu e o mais velho tínhamos bastante tempo juntos sozinhos enquanto o bebê dormia. Foi parecido quando veio o terceiro.

Destaco que esse deve ser um processo gradual e suave. Tenha confiança no ritmo e padrões de sua família que aos poucos o bebê entrará neste ritmo.

Carregue o bebê num sling enquanto você faz as tarefas de casa pela tarde e o tenha por perto no jantar. Seu bebê vai querer amamentar quando acordar do cochilo da tarde e no início da noite, mas tente encorajá-lo a ficar acordado nas duas horas que antecedem seu horário de dormir.

Tenha uma rotina tranqüila de preparação para o sono. Um bebê pequeno pode acordar as 16hs e ainda assim estar pronto para ir dormir às 19hs. Guardar os brinquedos juntos, fechar as cortinas, se banhar, trocar de fraldas e colocar o pijama, cantar canções de ninar – tudo isso ajudará o bebê a saber que a hora de dormir está chegando.

Balance e amamente o bebê e deite-o para dormir. Se você tem o costume de dormir com o bebê na mesma cama, você pode escolher deitar com ele até ele adormecer e depois se levantar.

Se seu bebê acordar de novo, simplesmente amamente-o e coloque o novamente na cama. Um horário de dormir cedo para o bebê dará a você um tempo para si. Você poderá tomar um banho relaxante, ter tempo com seu parceiro, ler, conversar ao telefone, ficar no computador ou apenas ter um tempo para si em silêncio.

Esse começo de rotina suave irá se desenvolver à medida que seu bebê cresce. Mantenha esse “roteiro” básico e outros ritmos irão se desenvolver com o tempo. É claro que há dias quando você vai precisar passar o dia “dançando” com o bebê nos braços quando ele tiver mais abusado ou noites quando o bebê não vai querer dormir, mas tudo isso faz parte. Porém, ter um ritmo geral será muito bom para todos.

Também lhe encorajo a ficar o máximo de tempo em casa com seu bebê! Programe suas tarefas fora de casa para um único dia da semana, ou dois no máximo, e honre sua rotina com o bebê. Honre os cochilos da tarde e, em especial, a hora de dormir. Esse pode ser um sacrifício da sua parte, mas é melhor para o bebê (e será durante muitos anos!). Felicidade para um bebê é estar com você, ficar junto de você num sling enquanto você faz suas tarefas e caminhar pelo vizinhança e pela natureza. A simplicidade da vida e a paz de ter um ritmo é um presente que ganhamos quando temos ter filhos.

Encorajo-lhe a cobrir a televisão durante o dia com um tecido bonito. Seu bebê não precisa dela e seus filhos pequenos não precisam dela. Ao invés disso, mostre sua casa e sua vizinhança ao bebeê. Inclua o bebê na sua vida, não ocupe a vida dele com uma TV.

Cante para seu bebê ao longo do dia. Seu bebê irá amar independente se sua voz é boa ou não! Você também poderá recitar versos infantis simples e associá-los aos diferentes momentos e tarefas do dia. Por exemplo: canções ou versos para tomar banho, lanchar, guardar os brinquedos, etc.

Conheça bem o “roteiro” e vá guiando seu bebê suavemente dentro da sua rotina diária. Honre o ritmo do seu bebê. Cante e recite. Deixe que o bebê veja a vida da casa e a natureza de dentro do sling. Lembre que é normal que alguns dias sejam difíceis. E confie que esse ritmo irá nutrir e apoiar seu bebê e você também!

quinta-feira, 24 de março de 2011

Conectando-se com nossos filhos

Por Carrie Dentley, baseado no capítulo 14 do livro “Hold On to Your Kids”; tradução livre (ver texto original em http://theparentingpassageway.com/2011/02/01/hold-on-to-your-kidscollecting-our-children)

Conectar-se ao nosso eu interior e aos nossos filhos, em conjunto com dar limites, é o que faz a disciplina funcionar. O autor começa este capítulo dizendo: “No topo da nossa agenda devemos colocar a tarefa de conectar-se com nossos filhos, de colocá-los sob nossas asas, de fazer com que eles queiram pertencer a nós e estar conosco. Não podemos mais supor, como os pais de antigamente podiam, que uma forte ligação inicial entre nós e nossos filhos irá durar o quanto precisarmos. Não importa o quão grande for nosso amor ou quão bem intencionada for nossa criação, sob as circunstâncias atuais temos menos margem para errar que todos os pais do passado. Enfrentamos competição demais”.

Então a questão fica sendo como conectamos DIARIAMENTE e REPETIDAMENTE com nossos filhos. Isso se encaixa bem com o estilo Waldorf devido ao uso extenso dos ritmos.

Os autores resumem quatro passos para tal conexão:

1. Entre no espaço da criança de modo amigável. Com crianças mais velhas, muitas vezes o único contato direto com os pais é quando algo está errado. O livro cita que criança que está aprendendo a andar experiencia, em média, uma proibição a cada nove minutos, que a redireciona para outro local. Então, quanto a criança cresce, os pais passam menos e menos tempo com ela no sentido de ficar apenas juntos, e o tempo que passam juntos é, quase sempre, para corrigir comportamentos errados.

Precisamos reconectar com nossos filhos após cada separação. A separação inclui não apenas a escola ou quando os pais vão para o trabalho, mas também depois que a criança acaba uma brincadeira, uma leitura, uma tarefa de casa, um filme ou ao acordar. Como isso é feito varia de família para família, mas é possível começar cumprimentando a criança que retorna de algum local ou de uma atividade. Faça o mesmo com os filhos dos seus amigos e com as crianças da vizinhança.

Acredito, também, que diminuir a quantidade de atividades que a família desenvolve fora de casa e dar maior importância aos rituais diários como cozinhar e comer juntos dá uma base sólida para os rituais de conexão.

2. Forneça algo para a criança poder se ligar a você emocionalmente: calor, calor emocional, atenção, interesse, ouvir a criança ou dar um abraço, beijo ou afago; o que cada criança precisar! “A criança precisa saber que é querida, especial, significativa, valorizada, apreciada, que sentem saudades dela, que gostam de sua companhia. Para uma criança receber completamente um convite à conexão (e acreditar nele e mantê-lo em sua mente mesmo com a distância física) é preciso que este seja genuíno e incondicional”.

Isso é muito importante mesmo quando você não tiver com vontade, pois seu filho está se desenvolvendo, o que nem sempre é fácil. Conecte-se com esta criança, ame-a! Guia-a, mantendo os limites, pois é você que é o adulto maduro com experiência de vida. Se você tiver a atitude de que irá criar esta criança para ser um bom ser humano, independente de qualquer coisa, então você se comprometerá para tal tarefa.

Os autores escrevem ainda que “Não podemos cultivar a conexão cedendo a todas as demandas da criança, seja por afeição, reconhecimento ou significância. Porém, podemos arruinar o relacionamento retirando da criança o que ela realmente precisa quando está expressando, genuinamente, alguma necessidade; responder à criança sob demanda não deve ser confundido com o enriquecimento da relação. Esse passo da dança não é uma resposta à criança. É o ato de conceber um relacionamento, repetidamente”.

Para crianças que têm uma ligação insegura com os pais, os autores observam que isso pode ser exaustivo para os mesmos e que “o problema é que a atenção dada [neste caso] nunca é suficiente: deixa uma incerteza de que os pais estão atendendo apenas às demandas, e não voluntariamente se doando para a criança. Então as demandas começam a aumentar mais e mais, e a necessidade emocional nunca se satisfaz. A solução é viver o momento, convidar o contato exatamente quando a criança não está pedindo.” Acredito que isso é especialmente eficaz em situações onde a filhos de mais de um casamento.

3. Convide a dependência. Os autores fazem uma comparação com o processo de namoro, quando um está continuamente se oferecendo a ajudar com uma atitude educada e feliz. “Você consegue imaginar o que aconteceria se, ao cortejar alguém, a mensagem enviada fosse: 'Não espere que eu lhe ajude com nada que eu ache que você pode ou deve fazer sozinho?'”

A dependência traz a independência no momento certo. Forçar a separação da criança causa pânico e faz com que ela “grude”.

Porém, o que os autores faltaram ressaltar aqui foi que, dentro do desenvolvimento normal da criança, isso aparece quando as crianças estão, de forma subconsciente, experimentando com o poder, com seus quereres e com as necessidades do seu desenvolvimento. Alguns pais precisam deixar com que seus filhos se tornem mais dependentes deles e precisam aprender a respeitar as indicações dos filhos mais velhos que que ainda não estão prontos para se separar. Porém, também há casos onde a criança está pronta para se separar e necessita disso, mas os pais não conseguem reconhecer que a criança precisa de apoio para fazer as coisas longe dos pais. Acredito que, dependendo da idade da criança, esta pode ser uma linha tênue onde os pais devem prestar atenção de forma muito consciente.

4. Aja como o compasso da criança. Precisamos guiar nossos filhos. Os autores escrevem: “Coisas mudaram demais para que nós sejamos guias. Não leva muito tempo para as crianças saberem mais que nós sobre o mundo dos computadores e da Internet, sobre seus jogos e brinquedos (...) Porém, apesar do fato do nosso mundo ter mudado (ou, mais corretamente, devido a este fato) está mais importante que nunca ter confiança em nós mesmos e assumir nossa posição como o compasso da vida dos nossos filhos”.

Os autores também listam várias frases que podem ajudar a orientar uma criança, tais como “Deixe-me mostrar como isso funciona”, “Você deve pedir ajuda a esta pessoa”, “Você tem o precisa para fazer (tal coisa)...”, etc.

Estas são coisas que vejo na vida real: mostrar a seu filho trabalho REAL e como fazer as coisas, primeiro por imitação (até os 7 anos) e depois ajudando-o a realizar trabalho real sozinho; ajudá-lo a encontrar seus pontos fortes e aumentar sua auto-confiança para enfrentar o que lhe desafia; aterrando seu filho na vida espiritual do FAZER; orientando-o, pelas suas ações, pela forma como você percebe o mundo e pela forma como você trata a família e as pessoas fora da família. Seja, você mesmo, um ser humano correto: se sua vida pessoal não estiver alinhada com a forma que você deseja que seu filho aja, é melhor que você mude para mostrar o significado de um ser humano moral. Na criação de um filho, não pode haver desconexões.

Acima de tudo, o compasso da criança inclui colocar limites de forma amorosa, com as ferramentas certas e na hora certa. Para todas as idades, é essencial controlar sua própria raiva e usar sua maturidade para ser adulto o suficiente para guiar a criança. Para todas as idades, mostrar à criança COMO make restitution é muito importante, é chave. Para as crianças com menos de sete anos, existe a imitação, usar as mãos para auxiliar de forma gentil, cantar, criar um ritmo, usar a distração, contar histórias, falar usando imagens e usar o movimento para ajudar a criança. Para crianças de cinco anos e meio ou seis, você pode usar frases curtas e diretas sobre o que precisa acontecer ou não. Para crianças de sete a oito, é possível usar uma explanação breve, com o cuidado de não estimular demais com as palavras. Para aquelas com mais de nove anos, uma conexão sincera ou uma conversa para resolver o problema.

Espero que este texto tenha ajudado você, como pai ou mãe, a unir as peças da conexão e dos limites para conseguir guiar seus filhos de forma gentil e amorosa, de uma forma madura onde você é o adulto, a realidade.

É bom ressaltar que tudo isso retrata uma situação ideal; porém, não somos perfeitos e TODOS nós passamos por momentos como pais onde nos perguntamos se estamos fazendo a coisa certa, se estamos estragando os nossos filhos, etc. Sim, todos nós já passamos por isso! Mas crie seus filhos com confiança e alegria; com conexões e limites para você e sua família você conseguirá criar seus filhos para serem adultos saudáveis!

terça-feira, 22 de março de 2011

Cultivando a gratidão nas crianças

Adaptado e traduzido livremente do texto de Carrie Dentley: http://theparentingpassageway.com/2010/11/14/back-to-basics-cultivating-gratitude-in-children/

Uma das reclamações que ouço frequentemente dos pais é que seus filhos parecem não apreciar as coisas nem saber expressar, prontamente, sua gratidão. Pais tem me contado histórias sobre como seus filhos pequenos só querem, querem, querem e querem, e como eles sentem raiva e tristeza se perguntando onde foi que erraram, pois seus filhos nunca estão satisfeitos.

Isso é difícil, e para começar é bom observar como você mesmo se sente sobre as emoções negativas que seu filho(a) expressa de forma geral. Estas emoções fazem com que você se depare com suas próprias questões? Comumente, quando uma criança faz algo que realmente nos irrita, existe uma razão do nosso próprio passado, da nossa própria “bagagem”, o que torna a questão uma espécie de gatilho.

Como você mesmo modela a gratidão na sua família? Existe uma atitude geral de contentamento ou você está sempre procurando por mais ou por coisas maiores e/ou melhores? Você é uma pessoa que reclama muito?

O que você faz todos os dias para ATIVAMENTE ser um modelo de conduta quanto à gratidão? Você agradece antes das refeiçoes? Você ora ou diz obrigado pelo que tem? Você reconta as coisas boas pelas quais você está grato e feliz antes de dormir?

Como é seu ambiente? É simples ou cheio que COISAS? Quantos brinquedos tem seu filho(a)? Pode ser que seja demais, mesmo que sejam apenas brinquedos “naturais”.

Qual a idade do seu filho(a)? Dos três aos seis anos (ou mesmo antes!!) pode ser difícil levá-los a lojas, pois eles podem não compreender que você não tem condições de comprar X, Y ou Z, então aconselho sair para as compras sozinho.

Você consegue apenas “refletir” os desejos dos seus filhos? Por exemplo, quando eles querem algo, responder “Eu também gostaria de algo assim” ou “É verdade, isso seria divertido”. Com frases simples assim você faz com que seu filho(a) saiba que foi ouvido, sem ter que entrar nos méritos do que ele(a) quer. O que eles querem pode ser, então, anotado numa lista de aniversário ou de Natal.

Que histórias você pode contar para trazer um componente de cura a toda esta questão? Existem algumas boas opções entre os contos dos Irmãos Grimm.

Você faz parte de uma comunidade espiritual que pode realizar atos de caridade? Até mesmo as crianças pequenas, dentro de um contexto de uma comunidade forte e acolhedora, pode realizar atividades de caridade (como participar na coleta de brinquedos e comida, por exemplo). Lembre-se que a questão não é falar sobre isso, mas FAZER.

Como está o nível de atividade física da criança? Como ela ajuda em casa e contribui para o bem estar do lar e da família? Eu acredito que crianças que tem tempo para querer, querer e querer provavelmente não estão usando sua energia física o suficiente! Também reflita sobre o calor que esta criança vem recebendo, a quantidade de escolhas que é forçada a fazer e o ritmo do seu lar.