segunda-feira, 2 de março de 2015

O sexto ano em uma escola Waldorf*


Entre o décimo e o décimo primeiro ano de vida as características mais imaginativas do pensar passam por uma metamorfose e reemergem como a habilidade de formar conceitos abstratos. Previamente o pensamento acontecia mais em termos pictóricos que conceituais. Ou seja, o pensamento passa a se originar da imaginação da criança e da ênfase dada aos seus poderes imaginativos no currículo do ensino fundamental I. Pois ao invés de forçar a capacidade de pensar prematuramente, as escolas Waldorf se baseiam em um amadurecimento progressivo. Assim, o pensar que surge de uma imaginação saudável e madura é flexível e caloroso e fruto das imagens vivas do mundo que foram apresentadas à criança. Afinal, nesta idade as crianças já acordaram, com entusiasmo, para o mundo ao redor, e o currículo do sexto ao nono ano é formulado para prover experiências que se encaixem na sua nova habilidade e forma de pensar.

As crianças de doze anos começam a ter novas sensações de peso e gravidade em seus corpos, tornam-se mais conscientes da sua fisicalidade e precisam sentir que pisam firme na terra. Sentem-se curiosos quanto a causa e efeito e esperam respostas diretas às suas indagações e observações. O mundo, para uma criança do sexto ano, é delineado em termos absolutos entre o que é certo e errado. E, a medida que se aterram em quem realmente são, começam a olhar para o mundo a fim de ver o que o mundo pede deles.

De fato, segundo Rudolf Steiner, é apenas aos doze anos que a criança consegue compreender causa e efeito, o que abre novas possibilidades de currículo para o sexto ano em diante. Segue, abaixo, um resumo dos componentes curriculares no 6º ano.

Geologia: o aumento da consciência corporal faz com que seja um ótimo momento para estudar o “corpo” da Terra. Os alunos estudam formações rochosas e as forças que mudam e moldam a superfície terrestre.

Astronomia: depois de dar atenção à Terra, os alunos estudam os corpos celestes, onde focam na relação entre a Terra, os outros planetas e as estrelas. Essa abordagem geocêntrica, como tinham os primeiros astrônomos, é adequada às percepções dessa idade; apenas mais tarde eles descobrirão a visão heliocêntrica.

Física: nessa disciplina se dá início às ciências laboratoriais. As ciências, nas escolas Waldorf, são sempre baseadas no estudo de fenômenos. Assim, os estudantes podem observar experiências de acústica, ótica, calor, magnetismo e eletricidade estática, descobrindo as leis que regem o mundo natural. O estudo da acústica, por exemplo, vai da familiaridade com a voz até sons de outra natureza. Os sons musicais são utilizados em experiências sobre harmonia e também expressadas e estudadas por meio das frações matemáticas que representam. O estudo do som é relacionado, ainda, ao funcionamento da laringe e do ouvido. O estudo da ótica, como outro exemplo, traz aos alunos a observação da beleza das cores, da luz e da sombra e o estudo das lentes. Em suma, os princípios da física são apreendidos por meio de experiências concretas ao invés de serem apresentadas teoricamente antes dos experimentos em si.

História: a nova habilidade de compreender causa e efeito é potencializada por meio do estudo do declínio da Grécia e da ascensão e queda de Roma e seu efeito na Europa ao longo da Idade Média. É inspirador o espírito de conquista da civilização romana e sua capacidade de dominar e transformar o mundo por meio da construção de pontes, estradas, prédios e aquedutos; por outro lado a história também traz um componente de cautela quanto às igualmente importantes consequências dos excessos cometidos durante o período romano.

Matemática: nessa disciplina as formas geométricas não são mais desenhadas à mão livre, mas construídas cuidadosamente com uso do compasso e da régua. As famílias de figuras geométricas são classificadas e estudadas por meio das leis matemáticas que incorporam. São introduzidas, ainda, formulas de cálculo de perímetro. Mais adiante os estudantes podem entrar no mundo da economia ao estudar porcentagens, juros, e outros aspectos da matemática financeira.

Geografia: aqui se estuda as configurações e contrastes da Terra, como a distribuição dos oceanos, mares, continentes e montanhas. Há uma introdução a questões climáticas conforme aplicadas, principalmente, aos continentes europeu e africano. O estudo da geografia europeia é feito de forma a complementar os estudos de história.

Botânica: continua por meio da horticultura.

Artes e trabalhos manuais: desenhos em preto e branco; luz e sombra; paisagens e contrastes de cor na pintura. Nos trabalhos manuais as crianças costuram bichos de tecido preenchido e esculpem madeira para fazer um animal e uma colher, desenvolvendo a habilidade com ferramentas.

Música: no canto, o enfoque é na música romana e dos menestréis da idade média.

Português e literatura: gramática e composição de textos, ortografia, leitura, redação, produção de relatórios, teatro e poesia. Na literatura, podem ser utilizados textos sobre Troia, Roma, as Cruzadas, a sociedade islâmica, a sociedade medieval, entre outros. De forma geral continuar o que foi iniciado no quinto ano e ensinar, de maneira fortemente estilística, um sentimento para orações conjuntivas, para que um forte sentimento dessa plástica interior da língua passe a permear o sentir a língua. A redação de cartas deve passar para redações comerciais simples e claras. Conteúdo narrativo: cenas da história moderna.

Línguas estrangeiras: leitura de textos simples, histórias de humor e tradução livre.

Euritmia: energia interpretativa, emocional e espiritual expressadas por meio do movimento.

Educação física: neste ano o aluno poderá praticar uma série de esportes, a depender de cada escola, tais como vôlei, basquete, queimado, hóquei, etc. Muitas escolas também realizam um mini-torneio de jogos medievais.

*Texto traduzido, adaptado e compilado dos sites abaixo:
Shining Mountain Waldorf School


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